Na Delegacia de Raccoon City, os policiais encontravam-se perdidos. O número de infrações crescera absurdamente naquele único dia, e as inúmeras pessoas detidas causavam um tumulto enlouquecedor enquanto aguardavam um julgamento que não viria tão cedo; a todo momento, os rádios de curta freqüência, walkie talkies e celulares tocavam, cantavam e gritavam, clamando por policiais que eram muito poucos diante dos fatos sem precedentes que estavam ocorrendo na cidade.
Policiais corriam de todos os lados, alguns deles ensangüentados; isso era porque alguns infratores não se contentavam em ficar presos. Pálidos e um tanto agressivos, tentavam abocanhar, enfurecidos, qualquer pessoa que se aproximasse demais, apresentando uma insanidade tão repentina e absurda que todos tinham certeza de que, no dia anterior, aquelas ainda eram pessoas normais. Não havia tantos delinqüentes em Raccoon City, e o mais estranho era que todos apresentavam as mesmas características. Contudo, não era preciso ser gênio para deduzir o que estava havendo.
- A Umbrella está metida nisso! - gritava um policial, tentando conter um dos infratores algemados que tentava morder seu pescoço.
Um ladrão de carros de segunda categoria estava desesperado; fora algemado ao lado de uma delinqüente de minissaia que, naquele instante, se parecia mais com um monstro do que com a mulher curvilínea que um dia fora, e ela tentava mordê-lo a todo custo, inclinando-se por cima de sua cadeira, a pele de um horrendo tom arroxeado.
- Socorro! - gritava ele - Alguém tire esse bicho feio daqui!
Mas ninguém o escutava; um policial continha um vândalo qualquer, que parecia um tanto assustado com seus futuros companheiros de cela, enquanto outros seguravam aqueles estranhíssimos infratores, gritando instruções uns para os outros; os rosnados daqueles delinqüentes era enlouquecedor, e as vozes no rádio tentavam sobrepôr-se à balbúrdia. Documentos voavam pela sala, canetas estavam espalhadas pelo chão, as cadeiras e bancos estavam posicionados de qualquer jeito, e os pedaços de um monitor que fora derrubado estava espalhado pelo local. As pessoas detidas estavam acorrentadas em qualquer lugar que as mantivesse quietas. Um dos infratores estava terrivelmente ferido; sentado a um canto, algemado, debatia-se contra uma febre misteriosa e desconhecida, mas ninguém lhe dava atenção.
- Estão pedindo uma viatura para Kyle! - informava um policial.
- Eles que se virem, as coisas aqui já estão difíceis! - retorquia um companheiro seu do outro lado da sala, contendo a custo um homem que para ele rosnava, exibindo os dentes imundos.
Subitamente, as portas da delegacia abriram-se com estrépito, e três pessoas, chefiadas por uma quarta, adentraram no local, armas em punho. Todas vestiam uma farda preta e cinza, com botas grossas, coldre, ombreira e luvas e faziam mira com suas armas; só houve tempo de ler o nome do líder estampado no peito ("DB"), porque, de uma única vez, quatro tiros ecoaram pelo local, sendo precedidos por outros. Todos os tiros acertaram os delinqüentes de feições monstruosas em cheio na cabeça. Todos os loucos enfermos caíram, imóveis, enquanto as outras pessoas soltavam exclamações de surpresa. Por fim, a gritaria cessou, exceto por um rosnado a um canto. Todos olharam para os recém-chegados; no braço de cada um dos quatro, brilhava o conhecido emblema dos S.T.A.R.S, os peritos em resgate que haviam sido contratados especialmente para diminuir o nível de violência da cidade. Altamente treinados, formavam o grupo de elite de Raccoon City.
Um pouco atrás do líder, havia a única mulher do grupo, uma moça jovem e risonha de cabelos curtos propositalmente despenteados; ao seu lado, estava um rapaz de boina e rosto largo e, ao lado deste, um rapaz tímido de óculos e cabelos encaracolados. O líder, um moço jovem e alto, de cabelos escuros, sobrancelhas grossas e semblante sereno, vasculhava o local com o olhar.
- O que pensam que estão fazendo, Collins? - perguntou um policial, assustado, que já não precisava mais conter um infrator, já que este se encontrava estatelado no chão ao seu lado.
Collins "DB", o líder calmo do jovem grupo, retorquiu:
- Estão infectados. Já não disseram para atirar na cabeça?
- Só estão loucos, vocês não podem sair atirando assim!
- Loucos de uma doença que não tem cura e é contagiosa.
- Socorro! - gritou o ladrão de carros a um canto.
O líder S.T.A.R. apontou uma pistola para a mulher que ameaçava o homem e, com um único tiro, exterminou-a. O ladrão olhou pela primeira vez para seu salvador. Este ainda mantinha a pistola em posição, sério e lacônico.
Então, tarde demais, o ladrão notou que um infrator que, até então, ficara a um canto, sentindo mal-estar, arreganhara os dentes, repentinamente pálido, saudável e ameaçador, e avançava para o líder S.T.A.R., seu alvo mais próximo, que notando a situação tarde demais, já não podia reagir.
Outro tiro ecoou milésimos de segundos depois, e o homem pálido e assustador estatelou no chão, enquanto seu alvo, o S.T.A.R. Collins, deu um rápido passo para frente para evitá-lo e, como todos, olhou para quem acabara de efetuar o disparo.
Fora uma mulher bonita, de cabelos curtos, tomara-que-caia azul-vivo, minissaia preta e botas sem salto. Poderia passar por uma civil se não houvesse um coldre em seu tronco, uma pistola idêntica à do S.T.A.R. em sua mão e uma expressão decidida no rosto.
- Essa foi por pouco, DB! - exclamou o moço de boina, aliviado.
- Obrigado, Jill. - disse Collins "DB" à mulher que acabara de chegar.
A moça assentiu e disse:
- Não há mais o que fazer aqui. - e, em seguida, apontou a arma para o ladrão de carros que gritou, mas o tiro foi para livrá-lo de suas algemas - Eu vou dar o fora da cidade e aconselho a fazer o mesmo.
- Não pode sair soltando os prisioneiros, que diabos está havendo... - dizia um policial, sem entender.
- Não podemos mais decidir o que é certo ou errado, Perks, só quem vive e quem morre. - retorquiu Jill.
- E não podemos abandonar nosso povo. - lembrou calmamente DB - Estão morrendo lá fora.
- E você será um deles se ficar. - retrucou a moça, dando as costas ao grupo e saindo da delegacia.
- Vamos com eles, Dan - disse a outra S.T.A.R, a menina de cabelos curtos e despenteados - Já é tarde demais.
- Certo. - concordou ele - Mas vamos tentar ajudar quem estiver no caminho.
Os quatro carregaram suas armas com um estalo e saíram da delegacia, sendo seguidos por policiais apressados e bandidos que foram soltos, todos unidos em sua pressa de sair da cidade.
- Já saiu o jornal vespertino, galera. - comentou o S.T.A.R de óculos, enquanto os quatro andavam calmamente até o carro - A manchete? "Os mortos caminham".
- Não dá pra acreditar que uma coisa dessas aconteceu aqui... - suspirou a única moça do grupo.
- Mas aconteceu, Ivanova. - afirmou DB, abrindo a porta do carro - E a culpa é da Umbrella e seus cientistas nada ambiciosos.
Os quatro entraram no carro.
- Acham que vai dar pra irmos de carro até a ponte com a cidade nesse estado? - perguntou o moço de óculos.
- Não sei, Dave, mas tem que dar. - respondeu o rapaz de boina, sentando-se no banco do passageiro - Eu ainda tenho muito o que fazer na minha vida, e não vai ser essa Umbrella maldita que irá me impedir!
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William Hoffman encontrava-se em um estado de crescente ansiedade. Estacionou seu jipe próximo ao bar do Dick e saltou dele, entrando às pressas no local. Estava vazio, exceto por Erek Leon, que estava sentando à porta do estabelecimento.
- Alice! - disse o texano - Ela passou por aqui?
- Não a vi, Will, acho que não. Will, tive uma idéia sobre como rastrear Bees...
Mas Will já saíra do bar, e Erek seguiu-o correndo.
- Aonde você vai, Will? Não quer saber como...
- Eu tenho que encontrar minha mulher, Erek!
Quando Will saltou para dentro do jipe, o amigo imitou-o.
- Que tá fazendo, cara? Fique aí!
- Você não está legal, e o Carl pode esperar. Vou com você.
Will não tinha tempo para discussões; só sabia que aquela era uma das raras vezes em que seu instinto sobrepunha-se à razão, e ele lhe informava claramente que precisava chegar à sua casa o mais depressa possível.
O trajeto foi mais tranqüilo em termos de trânsito, porém mais tenso para o jovem texano. Manifestando seu lado calado, companheiro e silenciosamente compreensivo, Erek nada disse e tampouco olhou para o amigo, limitando-se a olhar a paisagem ao redor como se estivessem em um agradável passeio, e não em um trajeto feito por um amigo descontrolado em um dia um tanto sinistro.
Por fim, os dois amigos avistaram a residência dos Hoffman; Erek pensou ter ouvido um ruído abafado de motor e visto uma fumaça em algum vão da garagem coberta, mas estava tão preocupado com Will e com o motivo de o amigo estar assim que não se atentou a esse fato.
Os dois saíram do veículo e Will sacou a magnum; Erek nada disse, apenas apanhou uma pistola que sempre tivera por medida de segurança em sua casa e acompanhou-o.
Próximos à casa, ouviram o inconfundível ruído de motor ligado; era fato que havia alguém ali, um fato confirmado pela porta que não estava trancada.
Uma vez no interior da casa, rumaram para a porta que levava à garagem coberta, as mãos segurando firmemente suas respectivas armas; Will não agia como se trabalhassem em dupla - parecia ignorar a presença de Erek, que recebia a atitude impassivelmente. Sem emitir nenhum sinal, o jovem Hoffman abriu com um puxão a porta que levava à garagem.
A fumaça cinzenta e fedorenta que invadiu em segundos o local causou tosse instantânea nos dois amigos, mas Will ignorou esses sintomas e entrou na garagem. Da porta, Erek espiou.
O conhecido Opala de William estava ali, guardado e conservado como sempre fora, o motor ligado emitindo uma fumaça que se espalhara pela garagem, concentrando-se naquele ambiente fechado. Para completar essa estranha visão, uma cena chocante: a porta do carro estava aberta e, sentada no banco do motorista, a cabeça caída para um lado, estava Alice Jane Hoffman, de olhos fechados.
Will venceu em poucos passos a distância que o separava do carro e, com um movimento desajeitado, desligou o motor e puxou um corpo menor que o de Alice e igualmente imóvel, fazendo o estômago já embrulhado de Erek virar do avesso de tanto choque; era Maryane.
Não dava para ver a expressão no rosto de Will porque ele não tirara os óculos, mas foi com visível desespero que ele carregou o frágil corpinho infantil para fora do carro e depositou-o no chão.
- Mary! - chamou, a voz estranhamente trêmula. Era raro a voz de Will vacilar daquela maneira e, talvez surpreso pelo amigo ser capaz de emitir tal som, Erek manteve-se paralisado à entrada da garagem, vendo Will improvisar uma massagem cardíaca em um óbvio esforço de trazer a filha de volta à vida - Maryane! Maryane!
O corpo da menininha continua imóvel, mais imóvel que os dois rapazes viram em vida; a menininha poderia estar dormindo se não estivesse tão pálida. A frente de suas vestes estava suja; havia um ferimento no pescoço cujo sangue escorrera para a blusa, mas havia também um líquido alaranjado cujo fedor se misturava à fumaça do escapamento: era vômito.
Desamparado e desesperado, Will voltou-se para a mulher; enquanto erguia-se, apertou um botão na parede que abria a porta da garagem para o ar poder circular e puxou para si Alice; a falta de circulação sangüínea causava-lhe a palidez da morte, e ela balançou como uma boneca de pano quando o esposo abraçou-a, a cabeça pendendo molemente.
- Alice... - sussurrou ele, os lábios tremendo, úmidos de suor - Minha querida... por que fez isso? Você pode respirar agora... Alice!
Ele olhou para o corpo da filha no chão e tornou a abaixar-se para ele, após apoiar o corpo de Alice cuidadosamente no banco do carro. Tornou a tentar fazer massagem cardíaca, desesperado, sujando as mãos de vômito, e ergueu os olhos ao notar um movimento à sua frente; refeito do primeiro choque, Erek aproximara-se.
- O que eu faço? - perguntou William - Você entende disso...
- O seu carro, Will - disse Erek - Tem catalisador?
- Eu... eu já desliguei o motor.
- William... ele tem?
- Ele é velho e não o uso... mas o que isso tem a ver? Me ajude a carregá-las para o hospital!
Erek inspirou profundamente. Pesava-lhe cada palavra que teria de dizer naquele momento.
- Will... não há mais o que fazer.
- Porra, do que você tá falando? Deixe que eu levo! - e ele fez menção de carregar a filha nos braços.
Erek o deteve colocando a mão em seu ombro.
- Will, quando um carro não tem catalisador, ele emite uma quantidade muito alta de monóxido de carbono...
- Eu sei, só preciso desintoxicar as duas!
- O monóxido de carbono liga-se à hemoglobina, Will... no lugar do oxigênio. Chegamos tarde demais, não tem como tirar. A... a carboxiemoglobina é muito forte... se tivéssemos chegado alguns minutos antes...
- Estamos perdendo tempo aqui, vamos, precisamos levá-las...
Erek abaixou-se e tocou o pescoço e o coração de Maryane.
- Não há mais o que fazer, Will. Eu sinto muito.
Com impaciência, William empurrou Erek para o lado e reiniciou a massagem cardíaca na filha; Erek, no entanto, olhava da mancha escura de sangue nas vestes da menina para a ferida em seu ombro, analisando tudo friamente como o amigo certamente faria em outras condições. E, para intensificar seu desagrado, Will curvou-se para fazer uma respiração boca-a-boca na filha.
- Não! - disse, detendo novamente o amigo com a mão em seu ombro - Você vai se contaminar!
- Que merda é essa agora?
Mas Erek agora pensava rapidamente. Ficara tão impressionado com o fato de Alice ter matado a própria filha e suicidado que não parara para refletir sobre o porquê disso. Contudo, ao ver o sangue na pequena Maryane, tudo parecia mais claro. Desviando-se do amigo, que agora o olhava, como se fosse sua única esperança, Erek foi até a porta do carro e analisou Alice; não precisou procurar muito. Viu uma bandagem sangrenta improvisada na panturrilha dela. Então, a luz que se fizera em sua mente foi confirmada.
No primeiro instante, tomara o ferimento de Maryane como um ferimento comum que a matara e, em um ato de desespero por perder a filha, Alice teria morrido intoxicada. Contudo, ao perceber que a menina vomitara - um dos sintomas de intoxicação por monóxido de carbono era náusea - e que a ferida fora causada por uma mordida tão similar aos ferimentos que vira na televisão tantas vezes no bar do Dick, compreendia o que acontecera.
- Will - disse Erek com voz estranha - Elas foram infectadas pelo vírus da Umbrella.
Então William pareceu, em meio à dor, recobrar a razão. Franzindo a testa, olhou para a filha mais atentamente, e dela para Alice. Então, sem dizer mais nada, ergueu-se e olhou para as próprias mãos. Aproximou-se de um tanque similar ao de uma lavandeira e lavou-as, melancólico. Em seguida, saiu da garagem pelo portão. Erek o seguiu.
- Cara, eu sinto muito...
Mas Will nada disse, apenas chegou ao jipe, e os dois embarcaram.
- O que pensa em fazer?
Novamente, o amigo ignorou-o e deu a partida no carro.
O jipe avançou pelas ruas até o bar do Dick, onde Will estacionou.
- Vai se encontrar com Carl aí, não é?
- Vou, mas o que pensa em fazer, Will?
- Ter uma conversinha com um certo filhinho da mãe. - respondeu este, a voz tremulando de raiva.
Erek não o deteve, antes saiu do carro, e Will partiu, desaparecendo de vista.
Olhou ao seu redor, então. Pessoas caminhavam e corriam, inquietas, conversando entre si; um garoto de uns dezoito anos pregava manchetes de jornais nos postes, apressado. Erek deteve-se em um deles e leu a seguinte manchete:
"Os Mortos Caminham"
Abaixo, havia um artigo sobre as suspeitas de alguns legistas da cidade. Segundo eles, a hora da morte de pessoas baleadas naquele dia não condiziam com o estado do corpo; de fato, estes mostravam inconfundíveis indícios de morte muito antes da perfuração de bala que policiais haviam disparado para contê-los.
Havia ainda uma entrevista com um conspirador da Umbrella Corporation, que afirmava categoricamente que suas suspeitas existentes há muitos anos sobre armas biológicas produzidas pela Corporação enfim haviam sido comprovadas. Testemunhas oculares afirmavam que conhecidos mostravam estranhas e repentinas tendências ao canibalismo, e uma médica assinalava estranhos sintomas comuns nos vários delinqüentes que se espalhavam pela cidade, concluindo que aquelas "criaturas" eram mortos que estavam caminhando por Raccoon City, sedentos de carne e sangue. Erek, que não esqueceria tão cedo a visão de Alice e Maryane mortas, pensou que não se sentiria pior ao ler aquela notícia, mas agora sabia que se enganara.
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A Umbrella Corporation era associada a uma companhia de celular, o que não era novidade para Carlos Visconti. A sede ficava em uma das avenidas principais de Raccoon City, um pouco afastada do bairro onde Erek Leon, naquele instante, se encontrava, à espera dos companheiros, pouco antes de Will encontrá-lo.
Não era novidade também que o celular de Bethany era ligado àquela companhia. Assim, na moto de Erek, Carlos e Maurício avançaram pelas ruas mais sossegadas da cidade, notando que alguns grupinhos de pessoas paravam pra conversar... se algo estranho já ocorria naquelas casas respeitáveis, os dois não notaram, apressados estavam em chegar a seu destino. Já era notável parte do caos no tráfego quando chegaram a avenida onde estava localizada a sede de telefonia celular local.
- Certo, cara... com o celular que o barman me emprestou e com o seu, vamos nos comunicar e você vai fazer exatamente o que eu disser. - afirmou Carlos.
- Tem certeza de que vai dar certo?
- Vai, eu ajudei a programar essas belezinhas...
Nesse instante, a porta fechada de uma loja de roupas no quarteirão à esquerda da empresa abriu-se com estrépito, e pessoas precipitaram-se para fora aos berros - visivelmente fregueses.
- O que houve lá? - perguntou Mauricio, assustado.
Carlos não respondeu; distinguiu alguns vultos atrás da vitrine, mas não podia ver muito - sua visão era péssima e havia várias roupas enfileiradas em cabides, dificultando o acesso visual ao cenário.
- Não sei - disse ele - Mas é melhor você ir, e bem depressa. Faça tudo como combinamos!
Mauricio engoliu em seco e desceu da moto, rumando para a sede de telefonia de Raccoon City. Tinha perfeita consciência, e aquela última cena apenas pareceu realçar isso, de que havia um caos naquela cidade, e tudo por culpa da Umbrella. Queria ir embora o mais rápido possível, porém sabia que sozinho não conseguiria - não tinha nem seu carro por perto! Então, o melhor a fazer era ajudar aquele estranho grupo a encontrar a tal Bethany e sair dali. Contudo, era bom que não se demorassem nessa tarefa - Mauricio não sabia quem era essa mulher, mas tinha certeza de que não daria a própria vida por ela. Se precisasse sair da cidade sozinho, ele o faria - aqueles malucos que tentassem encontrá-la sozinhos!
Mauricio empurrou a porta de vidro, entrando em uma loja fresca e arejada que abafava os ruídos da rua; apesar disso, o ambiente naquele lugar não estava normal.
Havia, naquele primeiro cômodo, quatro fileiras de cadeiras, a maioria ocupada por fregueses insatisfeitos; no balcão, três atendentes uniformizadas conversavam com seus respectivos clientes; outras pessoas pareciam preocupadas, dando telefonemas ansiosos, sentadas ou em pé, caminhando pelo local, e outros funcionários da empresa andavam a passos rápidos, transmitindo informações uns aos outros, visivelmente tensos. Um corredor dava acesso ao restante do edifício.
E, por alguma razão, a televisão no alto da salinha estava desligada. Um ou dois clientes ansiosos não paravam de lançar a ela olhares furtivos, e um deles até se levantou e perguntou em um tom anormalmente alto:
- Pode ligar a televisão, mocinha?
- Sentimos muito, senhor, mas está estragada.
Lançando olhares esquivos, Mauricio aproximou-se do balcão; notando que ninguém o impedia, ele avançou rumo ao corredor, cuja placa informava ser restrito a funcionários.
- Ei! - chamou alguém às suas costas.
Mauricio olhou para trás; era o homem nervoso que caminhava pelo local e pedira para que ligassem a televisão. Felizmente, as atendentes, ocupadas, nada notaram.
- É só para funcionários. - disse o homem, quando se aproximou o suficiente de Mauricio para lhe falar.
Conforme Carlos e Erek haviam lhe dito, o rapaz ergueu um crachá rapidamente e baixou-o antes que aquele homem notasse que não era o documento da empresa telefônica, e sim de uma concessionária onde ele trabalhava.
- Sinto muito, mas não posso atendê-lo, estou com pressa. - acrescentou Mauricio, sentindo que precisava deixar o serviço bem feito - Com licença - e subiu as escadas.
Essa era outra tática ensinada pelos dois novos companheiros; a possibilidade de alguém usar a escada quando havia um elevador era mínima. Era verdade que havia câmeras, mas com a confusão daquele dia, havia alguma chance de Mauricio passar despercebido e, se fosse apanhado, poderia se safar com uma boa conversa já ensaiada.
Assim, quando estava no segundo lance, ele levou o celular ao ouvido, chamando Carlos.
- Estou indo para o segundo andar.
- Ok... preciso que você me diga o que está vendo para eu poder me orientar... só estive aí uma vez, a parte mais difícil vai ser chegar a um desses computadores... o resto é...
Mas o que o resto era, Mauricio jamais soube, porque, naquele instante, o telefone ficou mudo. Tirou, então, o aparelho da orelha e olhou para o visor - estava sem sinal.
Estava em uma empresa de telefonia onde seu celular não funcionava. Passos ecoaram no segundo andar, um pouco acima de sua cabeça, e um vozerio ecoou no andar de baixo.
O plano falhara.